sábado, 24 de fevereiro de 2018

Idas e Vindas do Progresso

Idas e Vindas do Progresso

Neste texto faço uma breve reflexão sobre porque nem todos os avanços tecnológicos são necessariamente para o bem imediato da humanidade ou significam um degrau escalado na marcha do progresso.
O Espiritismo possui uma perspectiva evolucionista associada à ideia do progresso. Digo isso porque progresso e evolução, apesar de serem conceitos semelhantes, possuem significados diferentes. Aliás, o termo que encontramos em O Livro dos Espíritos, onde explana-se bem esse conceito, é a “Lei de Progresso”. A palavra evolução tornou-se mais popular com a teoria da Evolução de Charles Darwin e possui significado bem diferente da Lei de Progresso do Espiritismo.
É preciso estudar muito atentamente a chamada Lei de Progresso para entender que o progresso na perspectiva espírita não se trata de uma marcha uniforme, ininterrupta e constante. Apesar de não retrogradarmos individualmente quando efetivamente progredimos, as coletividades, do ponto de vista humano, podem retroceder.
Não estou dizendo nenhuma blasfêmia e explico melhor meu ponto de vista. Quando um indivíduo adquire de fato um conhecimento, como aprender a ler, ele não volta a ser analfabeto; da mesma forma, não perdemos as qualidades morais que efetivamente adquirimos. Algumas pessoas, por falta de circunstâncias favoráveis, não manifestam seus maus pendores e por isso parecem ser boas, mas o simples fato de não ter feito o mal não significa uma virtude adquirida. Por outro lado, quando observamos a história da humanidade, temos várias idas e vindas, povos que chegaram ao seu apogeu e desapareceram, outros que se desvirtuaram moralmente. Do ponto de vista espírita, ocorre que, com a sucessão das gerações, são outros os espíritos que encarnam naqueles povos e lugares, o que pode resultar em um retrocesso do ponto de vista humano, ainda que não haja um retrocesso do ponto de vista espiritual.
E mesmo que os planetas, dentro de uma perspectiva maior, estejam submetidos à Lei de Progresso, eles também têm seu tempo de vida. O planeta Terra não existirá eternamente, assim como o nosso Sol um dia deixará de brilhar, ainda que isso leve bilhões de anos. Porém, os espíritos que aqui habitam seguirão progredindo em outros planos de existência.
Toda essa introdução é para dizer que apesar de existir uma Lei de Progresso à qual todas as coisas estão submetidas, do ponto de vista das coisas terrestres, frequentemente as coisas desandam, sem que isso afete a essência daquela lei. Se seguirmos mais adiante em O Livro dos Espíritos, vamos encontrar também a Lei de Destruição, talvez mais complexa e de difícil entendimento que a Lei de Progresso. Talvez o Espiritismo seja a única “religião” ocidental que apresenta a destruição como uma lei divina.
É curioso que grande parte do público espírita ignora as faces dessas leis e alimenta um otimismo exagerado com relação ao progresso terrestre, um otimismo que beira a ingenuidade. Nessa perspectiva, todos os nossos problemas serão resolvidos e não precisamos nos preocupar com nada, pois a Lei de Progresso está aí pra ajeitar a casa: “Problemas ecológicos? A tecnologia está aí pra resolver tudo. Ameaça nuclear? Os bons espíritos vão intervir e resolver o problema. Problemas sociais e violência? Logo os maus desencarnarão e só reencarnarão espíritos de luz. Já estamos adentrando na era da regeneração e nada muito grave pode acontecer, apenas os ecos do mundo de provas e expiações que ainda reverberam do passado, mas que logo sumirão estabelecendo um paraíso na Terra.”
Na ânsia de encontrar soluções para os nossos problemas, sonhamos com um mundo de regeneração que de fato existirá um dia, mas, se é verdade que as bases para essa regeneração estão estabelecidas, até que se construa o edifício, muitas gerações irão suceder-se, as mudanças não se darão em um passe de mágica, teremos muitas idas e vindas e é preciso estar alertas aos perigos de agora que nos cercam e podem embaraçar a marcha do progresso.
O avanço vertiginoso da tecnologia, sobretudo em áreas como a inteligência artificial, representa um risco real para a humanidade, independentemente do seu potencial positivo. Maravilhamo-nos com a tecnologia, sonhando que ela será a solução mágica para todos os problemas da humanidade. Ansiosos pelo mundo de regeneração, abraçamos as inovações tecnológicas de maneira acrítica, como se ela fosse isenta de riscos e de manipulações por parte daqueles que detêm o poder na Terra.
Certamente, tudo ocorre com a permissão divina, e Deus nos permite aprender com o erro, de outra maneira não existiria o livre-arbítrio. Foi pelo livre-arbítrio que ocorreu a tragédia atômica de Hiroshima e Nagasaki, foi pelo livre-arbítrio que ocorreram as guerras mundiais, as cruzadas, e pelo livre-arbítrio os homens crucificaram o próprio Jesus. Deus não impede que coisas ruins aconteçam quando estamos determinados a fazê-las e quando Ele julgue que dessas más experiências podemos retirar algum proveito para o nosso aprendizado e crescimento. Isso não quer dizer que Deus não nos livre de certos males ou que ele seja indiferente ao nosso sofrimento, porém a liberdade não existe de fato quando não nos é permitido fazer más escolhas, sofrer as consequências e aprender com elas.
Deus nos protege a todos e em uma perspectiva maior, estamos todos direcionados à perfeição, porém, por nossa ignorância, podemos retardar a caminhada individual ou planetária. Não sejamos pessimistas, nem tão pouco ingenuamente otimistas. Certamente, todo esse progresso tecnológico será usado em benefício da humanidade assim como hoje a energia atômica possui diversos usos, mas está em nossas mãos evitar que se repitam os equívocos do passado, pois, pelo potencial das tecnologias atuais, os estragos serão exponencialmente maiores do que qualquer tragédia do passado.

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