A pseudociência é frequentemente
definida como uma informação que se diz científica sem na verdade ser baseada
nos procedimentos adotados pela ciência. Normalmente, apoiam-se em teorias da
conspiração, correntes de internet, argumento falaciosos e estudos obscuros. É
muito importante nos dias atuais saber reconhecer uma pseudociência, pois,
algumas ideias como as que pregam o não uso de vacinas são arriscadas para a
saúde humana ou simplesmente ridículas como a de que a Terra é plana.
Esse fenômeno acontece porque
algumas teorias buscam o respaldo da ciência para obter credibilidade, dando
uma cara de coisa séria ao absurdo e infundado. Porém, o assunto é menos
simples do que parece. Primeiro porque não existe apenas uma definição sobre o
quê é ciência. Os mais ortodoxos consideram ciência apenas o quê é
materialmente comprovado, de preferência com mensuração matemática precisa e
absoluta. Para esses, até mesmo a psicologia, a economia, a antropologia e a
sociologia não são ciências. Já vi muita gente com pensamento reducionista apontar
esses ramos do conhecimento como pseudocientíficos.
Qualquer um que estudar um pouco
as concepções mais recentes sobre a ciência verá que ela se baseia em um
sistema de verificação que pode ser refutado por seus pares, ou seja, afirmações
que não podem ser testadas ou desmentidas, não são científicas. Essa, para mim,
é uma concepção mais coerente. De qualquer forma, é preciso ter cuidado, pois
se não existe uma concepção única sobre o quê é ciência, tão pouco é possível
definir precisamente o quê é pseudociência, a não ser sob um determinado viés
ideológico.
Não se pode ignorar também o fato
de que não existe “uma ciência oficial”, a ciência é uma rede de colaboração.
Algumas “verdades” científicas desfrutam de alta credibilidade, outras, nem
tanto. Algumas afirmações estão no campo das hipóteses científicas, ou seja,
especulações feitas, porém com embasamento científico, mas que ainda não foi
possível verifica-las. Nem toda afirmação pode ser chamada de hipótese
científica, é preciso que ela se baseie em teorias e resultados paralelos que
permitam elaborar uma hipótese plausível para explicar um fenômeno.
Também é importante saber que os
cientistas, enquanto seres humanos, são influenciáveis por diferentes sistemas
de crenças e o sistema de crenças predominante no meio acadêmico é o
materialismo. Os materialistas gostam de chamar a si mesmos de céticos, mas
eles são apenas crentes de um sistema. O verdadeiro ceticismo é aberto à
verificação de qualquer hipótese, seja ela materialista ou não.
É verdade que existe muita
pseudociência nos meios espiritualistas, mas é preciso separar o joio do trigo
e dizer que também existe boa ciência. Muitos estudos feitos por cientistas
ateus, com revisão dos pares, em periódicos gabaritados, trazem evidências
testáveis e refutáveis de afirmações feitas por diversas religiões, como, por
exemplo, dos efeitos benéficos das orações sobre a saúde, tendo o cuidado de
descartar o efeito placebo.
Temos também sistemas de crença
muito complexos e profundos que não são baseados em argumentos de autoridade,
teorias da conspiração, ou verdades escondidas que ninguém mais pode acessar.
Muitos deles, como o Espiritismo, utilizam da observação sistemática dos fatos
sem partir de premissas, estudam os fenômenos espirituais, comparam, testam e
elaboram hipóteses que podem, por sua vez, serem testadas e refutadas por
qualquer um, em qualquer época, sem governos secretos escondendo a verdade ou
revelações maravilhosas que mais ninguém sabe.
A pseudociência é um risco não
apenas para a ciência, mas também para a espiritualidade que fica ofuscada pela
superstição fazendo parecer que tudo quanto se refere à espiritualidade humana
é simplório e ridículo.
Alguns sistemas de crença também
não requisitam para si a qualidade de serem científicos. Alguns possuem
conhecimentos tradicionais que são utilizados milenarmente, por exemplo, o uso
de plantas medicinais pelas populações indígenas. Nesse caso a ciência pode até
verificar e testar, mas os índios não usaram a metodologia científica o que não
quer dizer que a coisa não funcione. Nem tudo o quê é científico é verdadeiro,
basta olhar a história da ciência e comprovar que ela frequentemente se
equivoca mesmo quando segue rigorosamente seus métodos, e nem tudo que não é
científico é falso, ou seja, outros sistemas de conhecimentos diferentes da
ciência podem também atingir verdades profundas.
Algumas crenças são complexos
sistemas simbólicos que trabalham a subjetividade do indivíduo e não dizem
muito respeito a verificação material dos fatos ou comprovação estatística, mas
eles são muito eficientes na mudança de perspectivas do indivíduo e na
ressignificação de suas experiências emocionais e psíquicas.
Então, temos de fato um conflito
perigoso entre ciência e pseudociência, mas não se enganem, existe também no
meio científico estudos que evidenciam princípios defendidos pelas religiões,
temos religiões com sistemas complexos não científicos (o quê não as torna
inferiores) e as que, estando livres das amarras do materialismo, fazem uso serio
da metodologia científica.
Existe um interesse, ou
ignorância mesmo, por parte dos materialistas que querem jogar tudo o quê não
for ciência materialista dentro do balaio de gatos das pseudociências. Inclusive,
quase tudo que se escreve sobre pseudociências é escrito por crentes no
materialismo que não enxergam, ou não reconhecem essa distinção. Muitos textos
na Internet ensinam a reconhecer as pseudociências, mas sem os ajustes finos
para perceber essas sutilezas.
Reconheço que para o iniciante
não é fácil distinguir essas coisas, mas fica o alerta. Quem tiver interesse
procure ler sobre filosofia da ciência e no campo da espiritualidade comece
pelas grandes obras clássicas espiritualistas ocidentais e orientais e logo
será fácil perceber essas nuances.
O Espiritismo, por sua vez,
oferece amplos recursos para conciliar de forma séria ciência e
espiritualidade. Foi Allan Kardec quem estabeleceu que o Espiritismo deve ser
um sistema aberto para autocorreção e evolução, assim como nas ciências. Ele
também nos disse que se a ciência provasse que o Espiritismo estava enganado em
algum ponto, deveríamos seguir as evidências científicas. Os tratamentos
espirituais, em nenhuma hipótese, dispensam os tratamentos médicos
convencionais, na verdade, eles se complementam na busca da nossa saúde física
e espiritual.