Conta a tradição Hindu que o deus Shiva a partir de sua dança
marca o compasso do universo. Shiva leva em sua mão o Damaru que é um tambor na
forma de ampulheta que representa o som de criação do universo que é o Om (ॐ), mantra sagrado do hinduísmo e de outras religiões. Dizem que
ele contém o ensinamento dos vedas e é considerado o corpo sonoro absoluto.
O Om é o som do infinito e a semente que fecunda os outros
mantras. A alegoria representa bem a criação divina. Na gênese bíblica é o
som o primórdio da criação, o Fiat Lux (Faça-se a luz) simboliza uma ordem oral
a partir da qual surge o universo.
Os sons são considerados sagrados desde a mais remota
antiguidade e nas mais avançadas civilizações. No judaísmo enfatiza-se o valor
sagrado da palavra, sobretudo o nome de Deus que aparece sob diversas
denominações, mas que não pode ser pronunciado ou utilizado em vão. A
Secho-No-Ie, doutrina oriunda do Japão, reforça o poder criador dos sons e das
palavras, de forma que as afirmações positivas ou negativas repercutem
gravemente sobre nossas vidas. Em outras
tradições orientais, os mantras são usados como sons sagrados que abrem
determinados campos da consciência, permitindo o desenvolvimento psíquico,
espiritual, a cura e a meditação. Outras tradições enfatizam o valor de
palavras mágicas, orações poderosas ou fórmulas e conhecimentos que são passados
através da tradição oral e não podem ser escritos.
A acústica sagrada é um campo do conhecimento que estuda como as
antigas civilizações sabiam do valor sagrado dos sons e como manipulavam a
acústica de ambientes para que os sons sagrados fossem usados em suas
cerimônias, como por exemplo, os descobrimentos de David Lubman sobre o eco que
se escuta na pirâmide maia de Kukulkán. Verifica-se que aos pés da pirâmide,
produzindo-se um som como o bater de palmas, o eco reverbera na pirâmide
produzindo o som do Quetzal, um pássaro
sagrado que representa o espírito do povo maia, assim, nas cerimônias sagradas,
o pássaro poderia ser evocado. Em muitas civilizações, as construções foram
propositalmente manipuladas para produzir sons sagrados que conduzem a estados de
consciência alterados capazes de mudar a frequência mental e
proporcionar uma percepção especial do mundo espiritual ou de aguçar
determinadas capacidades imaginativas, criativas, meditativas ou mediúnicas.
Acredita-se que isso se passe também com as aleias
megalíticas dos druidas como na famosa Stonehenge na
Inglaterra. Os estudiosos David Keating e Aaron Watson comprovaram que as
pedras do lugar são capazes de reter e ampliar sons de frequência
mais alta como os emitidos pela voz humana, no entanto, outras vibrações como a
de tambores, escapam e podem ser ouvidas a certa distância. Esta era uma forma
de proteger os conhecimentos sagrados e manipular a acústica intencionalmente,
ou seja, as grandes e antigas civilizações conheciam o valor sagrado dos sons e
utilizavam os mesmos de maneira muito sofisticada.
Em O Livro dos Espíritos, na questão 251,
pergunta-se: Os Espíritos são sensíveis à música? - Queres falar da
vossa música? O que é ela perante a música celeste, essa harmonia da qual
ninguém na Terra pode ter ideia?
Uma é para a outra o que o canto do selvagem é para a suave melodia: Não
obstante os Espíritos vulgares podem provar um certo prazer ao ouvir a vossa
música porque não estão ainda capazes de compreender outra mais sublime. A
música tem, para os Espíritos, encantos infinitos, em razão de suas qualidades
sensitivas muito desenvolvidas. Refiro-me à música celeste, que é tudo quanto a
imaginação espiritual pode conceber de mais belo e mais suave.
Grandes compositores da humanidade alcançaram suas composições
em estado mediúnico ou de êxtase, onde
vislumbraram a música celestial. O que dizer então das composições vulgares de
hoje em dia? Como elas nos afetam? Como afetam a nossa saúde física e mental? E
os sons estressantes da cidade? O barulho das máquinas e a balbúrdia da vida
moderna? Se os espíritos falaram que a música terrena nada era, isso na época
de grandes compositores como Bach, Chopin e Mozart, o que eles diriam das
músicas tocadas nos nossos carnavais?
A ciência começa a dar sinais desta grande realidade. No
polêmico best-seller A Vida Secreta das Plantas lançado na
década de 1970, relatam-se de experimentos feitos em diversas universidades do
mundo com plantas cultivadas em viveiros, sob iguais condições e submetidas
experimentalmente a diferentes tipos de músicas. Foi notável como as
plantas que eram submetidas à música como o rock pesado
cresciam menos, chegando a inclinar-se em direção oposta as caixas de som, ao
contrário das que cresciam vigorosamente ao som de Mozart chegando a se
enroscarem nas caixas de som. Masaru Emoto, pesquisador japonês, lançou a
obra A Vida Secreta da Água, indicando como a água é capaz de
reagir ao som de palavras positivas ou negativas. Depois de ser submetida a
sons ou papeis escritos com palavras como “amor”, “fraternidade”, a água era
congelada rapidamente e verificava-se a forma dos cristais de gelo no
microscópio. As formas eram simétricas e caleidoscópicas, porém feias,
disformes e desarmônicas quando submetida a palavras com sentido negativo.
Todas estas informações poderiam estar restritas ao ciclo do
espiritualismo, até mesmo as pesquisas citadas nas obras A Vida Secreta
das Plantas e A Vida Secreta da Água, são alvo de
polêmicas e questionamentos, mas outros campos menos espiritualistas e mais
rigorosos da ciência têm dado sinais claros da importância dos sons sobre o ser
humano. É válido lembrar que vivemos em um mar de energia e que a física
moderna explica-nos como tudo está conectado. Luzes e sons são apenas formas
diferentes que se apresenta a matéria em diferentes estados e frequências.
Uma notícia veiculada recentemente nos meios de comunicação foi de
uma suíça chamada Elizabeth Sulser
que é capaz de sentir sabores e enxergar cores relacionadas com os sons que
escuta em qualquer lugar. É um caso raro de sinestesia e da forma que se
apresenta é único no mundo. Elizabeth tem conexões neuronais ativas que
permanecem adormecidas na maioria das pessoas, isso lhe permite uma percepção
especial dos sons. É interessante que em ambientes como discotecas com som
pesado ela enxerga quadrados negros e por isso não gosta destes ambientes.
Agora, finalmente descobrimos que nosso próprio cérebro possui
uma assinatura acústica própria. É o som que representa você no universo,
linguagem muito utilizada por antigos místicos e ocultistas, que parecia
alegórica, mas tem se demonstrado literal com esta notícia(1).
Esta assinatura acústica representa o que somos muito além das aparências
físicas e assim como Elizabeth pode enxergar e sentir o gosto de sons, outros
avançados sensitivos e videntes são capazes de enxergar esta assinatura
acústica na forma das cores da aura que nos circunda.
De fato, esta me parece uma notícia de grande importância
diante das imensas possibilidades que se abrem com esta descoberta. Novas
ferramentas de análise psicológica, tratamentos baseado no uso de
sons de acordo com nossa frequência mental, além dos já
citados na matéria, e a redescoberta de antigos conhecimentos de doutrinas
orientais e ocultistas relidos à luz da ciência moderna e desprovidos de
qualquer atmosfera miraculosa. Quando traduzida em linguagem musical, as
frequências dos bombeiros analisados transformam-se em composições semelhantes
à música clássica. Será esse um padrão na natureza? Será que os compositores
clássicos traduziam sua própria frequência para a linguagem musical sem se dar
conta disso? Não quero me alongar especulando as possibilidades deste
conhecimento, mas o que é certo é que os sons influem sobre nós e devemos estar
atentos ao que falamos, pois somos os primeiros a escutar e a sentir os
efeitos, e em seguida ter cuidado com o que buscamos ouvir.
Distanciar-nos um pouco da balburdia moderna e buscar ouvir os sons da
natureza é um exercício terapêutico que nos põe em contato com a nossa
ancestralidade. Podemos também recorrer a composições clássicas e meditativas
que possuem reconhecido poder calmante e terapêutico. O silêncio, tão difícil
de encontrar na vida moderna, limpa a nossa mente e nos permite aguçar nossa
percepção auditiva, algo muito importante na prática meditativa.
O assunto é muito vasto, mas espero que essas breves notas despertem o
interesse dos leitores, encontrando nesse campo novas possibilidades para o
próprio bem estar e aprendizado espiritual.
(1) A
matéria que me refiro foi publicada na Revista Isto É, no link: https://istoe.com.br/19617_A+MUSICA+DO+CEREBRO/